11 fevereiro, 2015

POR CAUSA DE UMA BRINCADEIRA, GUARDA MUNICIPAL PROÍBE MORADORA DE RUA DE ALMOÇAR EM RESTAURANTE POPULAR.



Nesta última terça-feira, dia 10 de fevereiro, minha irmã e eu fomos almoçar no restaurante popular de Juiz de Fora localizado no centro. Enquanto aguardávamos na fila, vários moradores de rua se divertiam com uma piada interna onde diziam, em tom alto de voz, a frase "o que é isso?". A algazarra causava certo desconforto em alguns. Um guarda municipal apareceu e diante daquela situação mandou uma moradora de rua, que estava entre os tantos que brincavam, para calar a boca. Ela ficou furiosa. Disse para o guarda que poderia pedir para que fizesse silêncio, e não que mandasse ela calar a boca. Os dois começaram uma discussão, e por fim ela chamou guarda municipal de "smurf" (referência ao uniforme azul do guarda) e de gay. O guarda neste instante proibiu a moradora de rua de almoçar.

O almoço no restaurante popular de Juiz de Fora é cedido pela prefeitura por R$ 2,00 a bandeja, mas há um programa social que oferece gratuitamente refeições à moradores, desde que sejam inscritos neste programa. A moradora de rua, reclamando a todo instante da postura do guarda com os colegas, até tentou entrar no restaurante. Ela encarou a fila enorme na esperança da refeição. Esforço em vão! Como é mostrado no vídeo, o guarda municipal com o reforço de mais um segurança do local, conseguiu proibir que a moradora de rua nem passasse pela catraca. A partir do vídeo a garota simplesmente deixa o restaurante sozinha e aos gritos.


Quando decidi postar isso aqui, acredito que já sabia o que provavelmente poderiam pensar a respeito desta situação: de que o guarda municipal agiu certo, afinal ela poderia ter ficado na fila quietinha, e se o guarda pediu para calar a boca, que ela ficasse calada, pelo ao menos não perderia o almoço. Isso não faz nenhum sentido!

Com toda a certeza que tenho neste mundo, se fosse comigo, se ao invés de mendigos falando alto e fosse eu e uns amigos, o guarda com certeza nos abordaria de um jeito bem diferente. E mesmo que ele nos mandasse calar a boca, da mesma forma que fez com a garota, talvez não reagiríamos da mesma forma, o que não entra em questão, pois isso depende da formação de cada um. E eu pergunto, como será que foi a formação dessa moradora de rua? Certamente que ela não teve nenhum apoio educacional.

Esse texto retrata não apenas como as autoridades tratam os diferentes segmentos da sociedade. Retrata também como funcionam os direitos em nossa civilização. Muita gente confunde direitos com benefícios, que direitos só devem ser concedidos após o cumprimento de um dever. Mentira! Direito é direito conquistado, não é um simples benefício. Para entendermos a gravidade da situação, talvez para essa garota este almoço seria a única refeição do dia! Ter acesso à alimentação adequada e de qualidade não deveria ser nenhum benefício, e sim direito. A fome não deveria ser resultado de um dever não cumprido, isso favorece a exploração e vai contra os direitos humanos, pois fere a dignidade humana. Esta moradora de rua tinha o direito de receber a alimentação que lhe foi designada pela prefeitura, direito que lhe foi negado. A fome certamente não era a realidade do guarda, e nem a minha. O guarda poderia sim ter usado um mínimo de bom senso, bastava ser um pouco mais diplomático. Parece que a miséria só importa para muitos quando ela bate na porta e que miseráveis devem se manter calados e domesticados, e qualquer revolta é considerada apenas um vitimismo sem causa. O guarda errou. Se estava em um péssimo dia e por isso agiu assim eu não sei. Só sei que impor uma autoridade sem necessidade é um tipo de violência que não resolve nenhum problema. Fim! (e desejo que não seja apenas neste texto)




Foto/Vídeo: Raony Almeida Ribeiro

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