15 fevereiro, 2015

DESAPEGAR PARA AMAR


Desapego é algo essencial para a vida, mas não devemos confundir o desapego com o descaso. Amar, em todas as suas várias formas, é um querer involuntário da felicidade e bem estar do outro. É querer de que o outro sempre fique bem. Paixão é uma síntese do encanto, de origem metafísica, ela é percepção à flor da pele.

O desapego não é estar longe, muito menos demonstra frieza. É algo natural do amor genuíno, que apesar de ser diferentemente do amor romântico também é quente, vivo e intenso, mas nunca fez ninguém sofrer. O amor romântico se confunde as vezes com a paixão, sentimento causado pela percepção do abstrato. Percepções abstratas que são as mais variadas formas de amor, livre das coisas materiais e físicas. Paixão é um encanto que perpassa por uma percepção transcendente, que sai da alma para o corpo. Essa percepção transcendente é diferente das percepções dos ouvidos, olhos, nariz, língua e pele. Não é provocada por frequências de som, luz, moléculas olfativas e degustativas ou textura. É provocada pela alma.

Ao contrário dos sentidos como o paladar, olfato, tato, audição e visão, que são percepções do meio material e físico para a alma, a paixão percorre o caminho reverso da percepção física. A paixão é um sentimento da alma para o corpo. Do imaterial, para o material; do espiritual para o físico; do abstrato para o concreto. Toda essa sensação é provocada por um impulso que acontece quando o amor surge na alma, que transborda todo tipo de sensação para o corpo.

O amor romântico é diferente da paixão e do amor genuíno, ele não existe sem o toque, sem o cheiro, sem ver, ouvir ou degustar. Tanto é que se não houver presença, dará a sensação de que não há amor. Tem que haver um envolvimento obrigatório com aquilo que é físico e material. Isso porque o amor romântico é um anseio, um amor por aquilo que está na frente, que se projeta, aquilo que se espera. E pelo fato de ser um anseio é impossível dissociá-lo do apego por estar ligado a um querer que vem do íntimo. Quando um anseio de algo que seria bom não acontece, não se concretiza, o apego causa frustração, sofrimento e tristeza.

O amor genuíno é como fazer fogo com gravetos e palha, exige sutileza e leveza na hora de assoprar a faísca para nutrir, deixando as coisas fluírem, dessa forma surge o fogo. Soprar com força no anseio do fogo é como não soprar, apaga a faísca. Portanto não é a força. Quanto mais força nos agarramos ao outro outro mais sofremos, e ainda mais, o amor genuíno se afasta. Isso é muito difícil de compreender. Ainda mais se acreditarmos que quanto mais agarrarmos à alguém, mais isso demonstrará que se importa com este alguém. Isso é apenas tentar prender algo, por um medo de que se não for assim, é que de fato acabará se machucando e se ferindo. Qualquer tipo de relacionamento no qual imaginamos que poderemos ser preenchidos pelo outro o agarrando, será um relacionamento complicado e repleto de ciúmes.

Por isso desapego faz parte de cuidar, pois não jogará culpa no outro de algo que ele na verdade não tem ou não é. Idealmente as pessoas deveriam se unir já se sentindo preenchidas por si mesmas, e ficarem juntas apenas para apreciar isso no outro, em vez de esperar que o outro supra essa sensação de bem estar que não se tem sozinho.




Ilustração: Raony Almeida Ribeiro

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